segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O amendoim sem casca continua a ser melhor

São 6 da tarde, e o sol, ao longe, continua a querer brincar comigo, aparecendo e encondendo-se atrás da franja do chapéu de sol da esplanada. Sacana. Não posso ter um bocado de descanso.
A garrafa da cerveja que tenho na mão é igual a que se pode comprar em qualquer hipermercado, tara perdida, pouco tempo na produção, doce e sem nada a acrescentar ao meu palato. A temperatura também não está bem, a garrafa está gelada, o líquido nem por isso.
Observo as pessoas com ar de turista e vejo a sogra, a tia, o neto e a netinha, o pai carrancudo e a mãe a tentar não explodir, há ainda o tio que não aceita já ter 40 e a irmã mais nova, boa, disponível e disposta a voar. Esta gente toda não é da mesma família, mas ao cruzar a porta de um qualquer retail park deste nosso país, fica homogénea, funde-se numa enorme família que deixou de procurar o campo com ar puro, trocando-o pela loja com ar condicionado, arrumado, limpo e sem precisar de fazer farnel para o lanche, perdido no mato.
Olho de novo para ver se o sol já me largou. Foi. Eu fico. Apenas mais 10 minutos até me aperceber que tudo isto é triste, embora não se oiça o fado. Levanto-me. Enrolo um cigarro longe dos olhares das distintas e educadas personagens que vagueiam pelos nossos domingos. Acendo a ponta dentro de mim. Vou pra casa olhar o horizonte só meu e comer uns amendoins sem casca, porque não sujam e ocupam menos espaço no armário. Tudo arrumadinho, homogéneo e quase limpo. Como as nossas tristes vidinhas.

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